Covid-19 pode desencadear Síndrome da Fadiga Crônica, sugerem estudos
São Paulo – SP 8/9/2021 – Este cansaço pode ser acompanhado do comprometimento da capacidade da manutenção da atenção e do foco nas atividades, além da memorização
A Síndrome da Fadiga Crônica é uma doença caracterizada por cansaço extremo, que pode durar meses; de acordo com o médico psiquiatra Cyro Masci, diagnóstico precoce de enfermidade colabora para tratamento eficaz
A pandemia de Covid-19 tem desencadeado, ao longo dos últimos meses, uma série de estudos sobre como o corpo humano reage de maneira diversa à infecção do coronavírus Sars-Cov-2. Do mesmo modo, teóricos da saúde humana se debruçam sobre a questão das sequelas surgidas naqueles que sobreviveram à doença, sendo a Síndrome da Fadiga Crônica (SFC) uma destas possíveis consequências surgidas a partir da infecção de Covid-19.
Também chamada de Encefalomielite Miálgica, a Síndrome da Fadiga Crônica é uma doença caracterizada principalmente por cansaço extremo, que pode durar mais de seis meses, além de comprometimento da memória e da capacidade de concentração. Segundo um estudo recente do Journal of Translational Medicine, que contemplou a revisão de trabalhos publicados por quase 40 anos, o número de acometidos gira em torno de 1% da população, sendo que as mulheres são atingidas entre 1,5 a 2 vezes mais do que os homens.
‘Síndrome pós-Covid’
A infecção pelo Sars-Cov-2, segundo alguns estudos, pode ser um desencadeador da SFC em pessoas que sobreviveram à Covid-19. De acordo um artigo publicado no jornal Molecular Psychiatry, as semelhanças “impressionantes” dos sintomas da Encefalomielite Miálgica com algumas sequelas verificadas em pacientes que se curaram da enfermidade causada pelo novo coronavírus fizeram com que tal “fenômeno avassalador, ainda não bem definido”, fosse chamado de ‘Covid prolongada’ ou ‘Síndrome pós-Covid’.
Para o médico psiquiatra Cyro Masci, um dos problemas que a SFC enfrenta é a má divulgação, “até mesmo no meio médico”, que chegou a levar a Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos a propor, em 2015, uma mudança nome da enfermidade para facilitar o diagnóstico e aprimorar seu tratamento.
Cyro Masci ressalta que, neste relatório da entidade estadunidense, foi destacado que menos da metade dos livros de medicina e menos de um terço dos currículos escolares médicos continham qualquer informação sobre a doença, resultando em diagnósticos tardios e abordagem inadequada dos sintomas dos pacientes.
Para Masci, a origem do problema ainda está sendo elucidada, “mas sabemos que a inflamação no cérebro gerada por infecção viral tem um papel muito importante”. O fato de um terço dos pacientes que contraíram Covid-19 (e 46% dos que ficaram em UTI) terem desenvolvido transtornos neurológicos ou psiquiátricos, de acordo com artigo recente do The Lancet Psychiatry, é um indicativo disso, segundo Masci.
Cansaço persistente pode ser indicativo da SFC
Diante desse quadro, o psiquiatra esclarece que alguns sintomas são indicativos de que a SFC possa estar se instalando, especialmente o cansaço persistente, que tem pouca melhora com medidas simples, como o repouso, prejudicando as funções do dia a dia.
“Esse cansaço pode ser acompanhado do comprometimento da capacidade de manutenção da atenção e do foco nas atividades, além da memorização. A sensação de fraqueza generalizada, além de algum grau de instabilidade emocional também é comum”, pontua Masci. “Além disso, estes sintomas costumam piorar após esforço físico, mental ou emocional, sendo que a própria percepção dessas dificuldades pode ocasionar sentimentos de tristeza ou ansiedade”, conclui.
Cyro Masci acrescenta que diversas doenças podem causar cansaço prolongado, mas que a possibilidade de a SFC ter se instalado deve ser sempre levada em conta, “mesmo que os exames habituais não apontem anormalidade”, visto que os exames rotineiros muitas vezes não fornecem todos os dados necessários para diagnóstico.
“É essencial que essa doença seja mais bem diagnosticada para que haja um tratamento eficaz”, finaliza.
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