Cresce o número de indígenas no ensino superior do país
No Amapá, estudante da aldeia Kumarumã, na terra indígena Uaça, no Oiapoque, conta que escolheu a Nutrição para ajudar pacientes indígenas e não indígenas a ter uma alimentação melhor
Até o final dos anos 1990, os indígenas universitários eram poucos e segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, eles eram, em média, 4 mil em todo Brasil. Nas últimas duas décadas houve um crescimento expressivo, chegando, segundo o Censo da Educação Superior (CenSup), a 47 mil matriculados em 2020.
Esse é o caso de Ynandayara Silva, uma jovem de 21 anos, estudante de Nutrição na Estácio. Ela é membro da aldeia Kumarumã, da etnia Galibi-Marworno, localizada na terra indígena Uaça, no município de Oiapoque.
Ynandayara conta que não é a primeira pessoa da tribo a ingressar no ensino superior, mas é uma das primeiras a fazer um curso de saúde. “Escolhi Nutrição por dois motivos, primeiro por não ter profissionais nutricionistas indígenas no meio hospitalar, tanto nos municípios, quanto nas aldeias e também porque minha avó teve um diagnóstico tardio de câncer no estômago”, diz.
A estudante relata que ao ingressar no ensino superior, se viu em um ambiente totalmente diferente da sua realidade, mas foi acolhida por todos. Ela destaca ainda que o curso está ajudando bastante nesse processo. “Futuramente a Nutrição ajudará muito mais na minha vida profissional, para melhor induzir os meus pacientes indígenas e não indígenas a ter uma boa educação alimentar e, com isso, prevenir eventuais doenças”, completa.
O Dia dos Povos Indígenas
O tradicional Dia do Índio, celebrado dia 19 de abril, este ano passa a ser chamado oficialmente de Dia dos Povos Indígenas, de acordo com a Lei de Nº 14.402/22. A mudança do nome da celebração tem como o objetivo ressaltar a diversidade das culturas dos povos originários.
De acordo com a historiadora e professora de Direito da Estácio, Anne Caroline Fernandes, o termo ‘indígena’, significa ‘originário ou ‘nativo’ de um local específico, sendo uma forma mais precisa de se referir aos diversos povos que, desde antes da colonização, vivem nas terras que hoje formam o Brasil. “O estereótipo do ‘índio’ alimenta a discriminação, que, por sua vez, instiga a violência física e o esbulho de terras, hoje constitucionalmente protegidas”, explica a docente.
Anne conta que a alteração do nome da celebração e a criação de um Ministério dos Povos Originários incentivam o progresso. “Agora com a Sônia Guajajara como ministra, os povos indígenas terão uma representação maior para as suas questões. Causando um avanço na preservação, saúde, políticas públicas e no acesso à educação”, comenta.
Ewerton França e Guilherme Melo